Adaptar ou mitigar?
As alterações climáticas antropogénicas são causadas por emissões de gases com efeito de estufa (GEE) e por mudanças nos usos do solo, que causam mudanças profundas na atmosfera e consequentemente nos padrões climáticos, sendo urgente atuar no combate a essas alterações.
Porquê mitigar?
A mitigação consiste na redução das emissões de GEE para a atmosfera. Com o objetivo de prevenir os riscos mais graves das alterações climáticas, em particular aqueles que são irreversíveis, os países que assinaram o Acordo de Paris em 2015 comprometeram-se a manter o aquecimento global menos de 2 °C acima dos valores do período pré-industrial e a desenvolver esforços para limitar esse aquecimento a 1,5 °C. As tendências atuais das emissões de GEE e os estudos mais recentes mostram que é cada vez mais difícil que essas metas sejam cumpridas. Já não há muita margem de manobra e as emissões têm de ser reduzidas drasticamente nas próximas décadas.
Reduzir as emissões não chega?
Consideremos o cenário futuro mais otimista, em que as emissões de GEE são reduzidas substancialmente a nível mundial, atingindo-se a neutralidade carbónica, ou seja, a situação de equilíbrio entre as emissões de dióxido de carbono e o seu sequestro, também denominada de “net zero” ou “zero emissões líquidas” de carbono. Idealmente, esta diminuição estará também associada à redução drástica de emissões de outros GEE, como o metano e o óxido nitroso.
Mesmo nesta situação ideal de redução das emissões de GEE, não podemos esquecer que a atmosfera é um sistema extremamente complexo e as mudanças não surtem efeito de forma instantânea. De facto, independentemente da redução de emissões que ocorra de agora em diante, as alterações provocadas pelas emissões passadas podem fazer-se sentir ainda durante muito tempo. Por exemplo, as temperaturas continuarão a aumentar pelo menos até meados deste século, e os efeitos nos oceanos e nível médio do mar são irreversíveis nos próximos séculos ou mesmo milénios.
Para que serve então a adaptação?
A adaptação às alterações climáticas surge para lidar com os efeitos dos eventos climáticos extremos inevitáveis e os seus impactos ambientais, sociais e económicos. Através da adaptação, é possível reduzir ou evitar danos e também tirar partido das oportunidades benéficas causadas pelas alterações climáticas.
Quando se tomam medidas preventivas, é possível evitar muitos custos. Eis dois exemplos concretos:
- Um estudo realizado por Feyen e Watkiss em 2011 revela que o investimento de 1 € em medidas de adaptação para evitar inundações permite economizar uma média de 6 € em custos com os danos causados;
- Outro estudo divulgado em 2015 por Pappenberger et al indica que o investimento em sistemas de alerta precoces de inundações permite obter benefícios na ordem dos 400 € por cada 1 € investido.
Devemos então mitigar ou adaptar?
Ambos os processos devem ser implementados, estando bastante interligados e sobrepondo-se até em muitos casos. Por exemplo, a poupança de energia ou a sensibilização da população são medidas tanto de mitigação como de adaptação.
A mitigação e a adaptação são processos essenciais e complementares para lidar com as alterações climáticas e salvaguardar o futuro de ecossistemas, populações e atividades económicas.